Disforia de gênero: o que é, como identificar e o que fazer

Atualizado em setembro 2021

A disforia de gênero consiste em uma insatisfação entre o sexo com que a pessoa nasce (características genitais do nascimento) e a identidade de gênero, que é a experiência emocional e social da pessoa como feminina, masculina ou andrógina.  Ou seja, a pessoa que nasce com sexo masculino, mas se identifica como feminino e vice-versa.

Assim, as pessoas com disforia de gênero, podem se sentir aprisionadas em um corpo que não consideram ser o seu, podendo sentir angústia, estresse, desconforto, ansiedade, irritabilidade, ou até mesmo depressão. Esses sentimentos também podem atrapalhar as relações sociais da pessoa, como no ambiente de trabalho, as amizades e as relações familiares.

Alguns tipos de tratamento como a psicoterapia, terapia hormonal e, em alguns casos, o tratamento cirúrgico, podem ajudar a aliviar os sentimentos de desconforto, angústia ou sofrimento da pessoa com disforia de gênero.

Imagem ilustrativa número 1

Como identificar

A disforia de gênero pode ter início por volta dos 2 ou 3 anos de idade, no entanto, algumas pessoas podem reconhecer sentimentos de disforia somente quando chegam à adolescência ou idade adulta.

1. Sintomas em crianças

Crianças com disforia de gênero podem apresentar os seguintes sintomas:

  • Querem vestir roupas feitas para crianças do sexo oposto;
  • Afirmam constantemente que pertencem ao sexo oposto;
  • Fingem que são do sexo oposto em várias situações;
  • Gostam mais de brincar com brinquedos e jogos associados ao outro sexo;
  • Mostram sentimentos negativos em relação aos seus órgãos genitais;
  • Evitam brincadeiras de outras crianças do próprio sexo;
  • Preferem ter companheiros de brincadeira do sexo oposto.

Além disso, as crianças podem também evitar brincadeiras características do sexo oposto, ou, no caso da criança ser do sexo feminino, ela pode vir a urinar de pé ou urinar sentada, caso seja um menino.

2. Sintomas em adolescentes e adultos

Algumas pessoas com disforia de gênero só percebem a desconexão entre o sexo de nascimento e a identidade de gênero quando já são adolescentes ou adultas, podendo começar por vestir roupas de mulher, e só depois perceber que têm disforia de gênero,  por exemplo. No entanto, não se deve confundir a disforia de gênero com travestismo, que é quando a pessoa sente excitação sexual ao vestir roupas do sexo oposto, mas que pode continuar a ter o sentimento de pertencer ao seu sexo de nascimento.

Outras características do adolescente ou adulto com disforia de gênero podem incluir forte desejo de se livrar ou de impedir o desenvolvimento (no adolescente) de suas características sexuais ou desejo pelas características sexuais do gênero pelo qual se identifica.

As pessoas que só reconhecem a disforia de gênero na idade adulta, podem também desenvolver sintomas de depressão, ansiedade ou até mesmo  comportamentos suicidas, por medo de não ser aceito pela sociedade, pela família e pelos amigos.

Como é feito o diagnóstico

O diagnóstico da disforia de gênero geralmente é feito por um psicólogo, sendo recomendado também a avaliação de uma equipe multidisciplinar, incluindo endocrinologista, assistente social e enfermeiro para que seja feita uma avaliação de forma empática, acolhedora e centralizada no paciente.

A disforia de gênero normalmente é confirmada em casos onde as pessoas sentem por 6 meses ou mais que seu sexo de nascimento é incompatível com sua identidade de gênero, tendo aversão à sua anatomia, além de sentir angústia extrema, perdendo a vontade e a motivação para realizar as tarefas do dia-a-dia.

O que fazer para lidar com a disforia

Além de ser fundamental receber o apoio de amigos e familiares, para lidar com a disforia, é fundamental ter o acompanhamento individualizado e constante de uma equipe multidisciplinar para que seja possível ouvir, orientar e auxiliar as decisões da pessoa, visando o bem estar geral.

Pessoas com disforia de gênero, mas que não tenham sentimentos de angústia ou depressão, por exemplo, normalmente não precisam de auxílio. No entanto, algumas pessoas podem precisar de psicoterapia, terapia hormonal e, em alguns casos, a cirurgia para mudança de sexo.

1. Psicoterapia

A psicoterapia consiste numa série de sessões, acompanhadas por um psicólogo ou um psiquiatra, onde o objetivo não é de mudar o sentimento da pessoa em relação à sua identidade de gênero, mas sim, de lidar com o sofrimento causado pela angústia de se sentir num corpo que não é seu ou de não se sentir aceita pela sociedade.

A pessoa com disforia de gênero pode ter maior vulnerabilidade a transtornos mentais, seja pelo contexto social como estigma, preconceito e discriminação ou por precisar de auxílio para facilitar a identificação e a expressão de um gênero confortável. Por isso, uma abordagem respeitosa, consciente e livre de preconceitos por um psicoterapeuta pode ajudar na auto aceitação e bem estar geral da pessoa.

2. Terapia hormonal

A terapia hormonal consiste na terapia à base de remédios que diminuem a produção de hormônios sexuais para minimizar as características do sexo de nascimento da pessoa e induzir as características do sexo desejado.

Por causarem alguns efeitos colaterais, como ganho de peso, acne, queda de cabelo ou diabetes tipo 2, é importante que o uso dos hormônios seja feito com acompanhamento de um endocrinologista e um psicólogo.

Nos homens, o remédio normalmente usado é a combinação de estrogênio com antiandrogênico, que leva  ao crescimento das mamas, diminuição do tamanho do pênis, redução da massa muscular e alteração da voz.

Já em mulheres, o hormônio normalmente usado é a testosterona, que leva ao crescimento dos pelos pelo corpo, incluindo a barba, aumento da massa muscular e engrossamento da voz.

3. Tratamento cirúrgico

O tratamento cirúrgico é feito com o objetivo de remodelar os órgão genitais de acordo com o sexo e a aparência física desejados, para que a pessoa tenha o corpo com o qual se sente confortável. Esta cirurgia pode ser realizada em ambos os sexos e consiste na construção de uma nova genitália e na remoção de outros órgãos.

Por ser um procedimento irreversível, para realizar a cirurgia a pessoa deve ter um acompanhamento de pelo menos 2 anos com profissionais como psicólogo e endocrinologista para confirmar que a nova identidade física é mesmo adequada à pessoa. Saiba como e onde é feita esta cirurgia.