Interações entre remédios e alimentos: quais são e como evitar

O que é:

Ingerir alimentos e bebidas junto com alguns tipos de medicamentos pode afetar a forma como esses remédios funcionam, impedindo que tenham o efeito esperado ou aumentando as chances de causar efeitos colaterais.

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No entanto, nem todas as interações são ruins, porque alguns medicamentos, quando tomados com alimentos, podem até ter sua absorção melhorada, o que aumenta a eficácia do tratamento.

Por isso, quando se começa a tomar um novo medicamento ou se faz um tratamento prolongado é muito importante seguir todas as recomendações médicas para um tratamento seguro e eficaz, incluindo as dicas de alimentação.

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As interações entre medicamentos e alimentos dependem da classe de remédio que se utiliza:

1. Anti-hipertensivos

Os anti-hipertensivos são os principais remédios usados para controlar a pressão arterial pois relaxam os vasos sanguíneos, facilitando a circulação do sangue e ajudando o coração a fazer menos esforço para bombear.

Estes medicamentos podem ser divididos em 3 classes e, dependendo da classe, é preciso ter alguns cuidados de alimentação específicos:

  • Inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA), como captopril, enalapril, lisinopril ou ramipril: deve-se evitar o consumo excessivo de alimentos com potássio, pois estes medicamentos causam um aumento desse mineral no sangue, o que pode levar ao aparecimento de efeitos colaterais como fraqueza muscular ou batimentos cardíacos irregulares. No caso do captopril, em específico, é também importante tomar o remédio com o estômago vazio, já que os alimentos diminuem a sua absorção;
  • Betabloqueadores como propranolol, carvedilol e metoprolol: deve-se evitar suplementos ou alimentos ricos em cálcio, pois este mineral pode reduzir a eficácia desses medicamentos. O ideal é tomar o medicamento 2 horas após a ingestão desses alimentos ou suplementos. No caso do propranolol ou metoprolol, é aconselhado tomar o comprimido junto ou logo após uma refeição para melhorar a absorção e a eficácia do tratamento;
  • Bloqueadores dos canais de cálcio como nifedipina, anlodipino, nicardipina, verapamil e diltiazem: deve-se evitar suplementos ou alimentos ricos em cálcio, pois este mineral diminui a eficácia desses anti-hipertensivos.

Além disso, o suco de toranja, também conhecido como grapefruit, deve ser evitado durante o tratamento com anti-hipertensivos porque diminui a atividade da enzima responsável por metabolizar esses medicamentos, podendo causar aumento dos efeitos colaterais ou intoxicação.

2. Diuréticos

Os diuréticos são medicamentos geralmente usados para o tratamento de hipertensão, insuficiência cardíaca ou acúmulo de líquidos e agem aumentando a eliminação de água através da urina.

Alguns cuidados de alimentação importantes para quem usa esses tipos de remédios são:

  • Usar suplementos minerais: principalmente no caso dos diuréticos que também eliminam minerais importantes como potássio, magnésio ou cálcio. Este tipo de suplementação deve ser prescrita pelo médico;
  • Tomar 1 a 2 horas antes das refeições: alguns diuréticos, como a bumetanida, furosemida e hidroclorotiazida, podem ter sua absorção prejudicada quando ingeridos junto com alimentos;
  • Evitar o uso de plantas medicinais: algumas plantas medicinais como cáscara sagrada, dedaleira, espinheiro branco, raiz de dente de leão, ginseng, cavalinha, alcaçuz, uva ursi, amieiro e erva de São João, podem aumentar o risco de efeitos colaterais dos diuréticos.

Além disso, durante o uso dos diuréticos deve-se evitar consumir alcaçuz pois este alimento pode diminuir a eficácia do tratamento.

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3. Antiarrítmicos

Os antiarrítmicos são usados para o tratamento de doenças do coração como insuficiência cardíaca ou arritmia, pois agem aumentando a força de contração cardíaca. Nesta classe de medicamentos, o mais utilizado é a digoxina.

A digoxina possui índice terapêutico estreito, ou seja, pequenas variações na dose podem causar efeitos colaterais graves. Por isso, para que o tratamento seja seguro, alguns cuidados devem ser seguidos como:

  • Evitar alimentos ricos em fibra, como farelo de trigo, aveia, arroz integral, brócolis ou cenoura, por exemplo, pois reduzem a absorção da digoxina, diminuindo seu efeito. O ideal é tomar a digoxina 1 hora antes ou 2 horas depois de uma refeição e fazer um acompanhamento com nutricionista que pode indicar a melhor forma de reduzir a ingestão de fibras sem prejudicar a saúde. Confira a lista de alimentos ricos em fibra que devem ser evitados com o uso da digoxina;
  • Evitar suplementos e alimentos ricos em vitamina D, pois esta vitamina pode aumentar a quantidade de cálcio no sangue, o que leva ao aumento dos efeitos colaterais da digoxina, podendo causar intoxicação com sintomas de sonolência, desânimo, confusão, náuseas, vômitos, diarreia, dor abdominal, visão embaçada ou batimentos cardíacos irregulares;
  • Evitar suco de toranja ou grapefruit, pois o suco desta fruta pode aumentar a concentração de digoxina no sangue e causar intoxicação ou overdose.

O uso da digoxina deve ser monitorado e acompanhado regularmente por um cardiologista para ajustar a dose quando necessário, avaliar a eficácia do tratamento e evitar o aparecimento de efeitos colaterais.

4. Anticoagulantes orais

Os anticoagulantes orais, como a varfarina ou acenocumarol, retardam o processo de coagulação do sangue, o que deixa o sangue mais fluido, diminuindo o risco de complicações cardiovasculares como derrame cerebral, infarto ou trombose.

Estes medicamentos, especialmente a varfarina, atuam inibindo a vitamina K, que é a principal vitamina que participa do processo de coagulação sanguínea. Por isso, dietas ricas nessa vitamina tornam a varfarina menos eficaz, devendo-se evitar o consumo de suplementos ou alimentos ricos em vitamina K como brócolis, repolho, couve, espinafre, nabo e couve de bruxelas, por exemplo. Confira a lista completa de alimentos ricos em vitamina K que devem ser evitados.

A varfarina pode ser tomada com o estômago cheio ou vazio, no entanto, deve-se evitar tomar junto com suco de mirtilo-vermelho, também conhecido como cranberry, ou pó de cranberry seco em cápsulas, suco de romã, suco de groselha preta e óleo de semente de groselha preta, pois podem aumentar o efeito da varfarina e aumentar o risco de sangramento ou hemorragia.

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5. Anti-hipercolesterolêmicos

Os remédios anti-hipercolesterolêmicos, também chamados de estatinas, são medicamentos que agem reduzindo o colesterol ruim e os triglicerídeos do sangue, como a sinvastatina, lovastatina, fluvastatina, pravastatina, rosuvastatina ou atorvastatina.

Alguns cuidados de alimentação importantes no uso deste tipo de remédios são:

  • Tomar à noite, pois a síntese do colesterol pelo corpo varia durante o dia, alcançando um pico máximo entre a meia noite e as 5 ou 6 horas da manhã;
  • Evitar alimentos ricos em fibras ou pectina, pois podem interferir na absorção das estatinas;
  • Evitar tomar suco de toranja ou grapefruit especialmente quando se usa atorvastatina, lovastatina ou sinvastatina, pois este suco aumenta os níveis desses remédios no sangue e o risco de efeitos colaterais como dor muscular, fraqueza excessiva, febre, mal-estar ou urina de cor escura.

Outras estatinas como fluvastatina, pravastatina e rosuvastatina não interagem com o suco da toranja possuindo menor risco de efeitos colaterais.

6. Antidiabéticos orais

Os antidiabéticos orais, como metformina, glimepirida, acarbose ou glipizida, agem diminuindo os níveis de glicose no sangue para controlar a diabetes e assim evitar complicações da doença.

A metformina, glimepirida ou glibenclamida, acarbose devem ser tomados imediatamente no início de uma refeição como o café da manhã ou a primeira refeição principal do dia, por exemplo. Já a glipizida de liberação imediata, glimepirida, glibenclamida ou gliclazida deve ser administrada 30 minutos antes das refeições para melhor eficácia do tratamento.

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7. Antibióticos

Os antibióticos são medicamentos usados para tratar infecções causadas por bactérias e agem impedindo a proliferação ou matando as bactérias que causaram a doença.

Durante o uso de um antibiótico, é importante tomá-lo sempre com um copo de água, pois produtos lácteos como leite e derivados contêm minerais, como cálcio e magnésio, que impedem sua absorção, cortando seu efeito. Além disso, suplementos contendo minerais, não devem ser tomados ao mesmo tempo que a ingestão dos antibióticos, devendo-se dar pelo menos 2 horas de intervalo entre o antibiótico e o suplemento.

Outros cuidados com alguns antibióticos específicos incluem:

  • Ciprofloxacino: evitar tomar junto com suco de frutas, pois reduz a absorção deste antibiótico, devendo-se esperar 2 horas entre a ingestão do remédio e o consumo de algum tipo de suco de frutas;
  • Azitromicina: deve ser tomado de estômago vazio, pois os alimentos diminuem sua absorção. O ideal é tomar esse medicamento 1 hora antes ou 2 horas depois das refeições;
  • Tetraciclina, doxiciclina ou minociclina: devem ser tomadas de estômago vazio para melhorar sua absorção, por isso, deve-se dar pelo menos 2 horas de intervalo entre o consumo de alimentos e a dose do antibiótico;
  • Penicilinas, como amoxicilina ou ampicilina: deve-se tomar no início de alguma refeição leve para reduzir a irritação no estômago. No entanto, evitar ingerir alimentos como leite e derivados junto com esses antibióticos;
  • Eritromicina: deve ser tomada de estômago vazio pois o alimento diminui a absorção desse antibiótico. O ideal é tomar esse medicamento 30 minutos antes ou 2 horas depois de se alimentar.

Também é importante evitar o consumo de bebidas alcoólicas durante o tratamento com qualquer tipo de antibiótico, pois o álcool pode prejudicar o fígado e interferir no metabolismo dos antibióticos, causando diminuição do efeito, intoxicação ou aumento dos efeitos colaterais.

8. Antidepressivos

Os antidepressivos são medicamentos utilizados para o tratamento da depressão, ansiedade, esquizofrenia, hiperatividade ou distúrbios do sono, por exemplo.

Existem muitos tipos de antidepressivos, mas entre eles, existe uma classe que precisa de cuidados de alimentação mais específicos. Essa classe é chamada de inibidores da monoaminoxidase e inclui a amitriptilina, clomipramina, imipramina, fenelzina, tranilcipromina, isocarboxazida ou selegilina. Estes medicamentos podem interagir com alimentos contendo tiramina e causar crise hipertensiva com sintomas de tontura, aumento da produção de suor, cansaço excessivo, visão embaçada, nervosismo, agitação, dor de cabeça e dor na nuca.

A tiramina pode ser encontrada especialmente em comidas fermentadas ou em alimentos envelhecidos como o queijo curado, bacon, salsichas, salames, presunto, espinafre, repolho, molho de soja, cerveja e vinho, por exemplo. Esses alimentos devem ser evitados durante o tratamento com inibidores da monoaminoxidase.

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9. Analgésicos e anti-inflamatórios

Os analgésicos e anti-inflamatórios são usados ​​para tratar dor e febre leves a moderadas e podem interagir com alguns alimentos:

  • Paracetamol: deve ser tomado com o estômago vazio porque os alimentos, principalmente os que contêm pectina podem diminuir sua absorção, reduzindo sua eficácia. Além disso, deve-se evitar consumir bebidas alcoólicas pois pode causar intoxicação no fígado e facilitar o aparecimento de cirrose ou hepatite medicamentosa. Confira a lista de alimentos ricos em pectina que devem ser evitados.
  • Ácido acetilsalicílico, ibuprofeno, naproxeno e cetoprofeno: devem ser tomados junto com alimentos para evitar irritação no estômago.

Além disso, algumas plantas medicinais como erva de São João ou ginkgo biloba devem ser evitadas durante o uso de anti-inflamatórios, pois podem aumentar o risco de irritação ou sangramento no estômago.

10. Broncodilatadores

Os broncodilatadores são medicamentos usados no tratamento e na prevenção de crises em pessoas com problemas respiratórios como asma, bronquite crônica, enfisema ou doença pulmonar obstrutiva crônica.

Alguns cuidados importantes com a alimentação, especialmente quando se usa broncodilatadores por muito tempo, são:

  • Evitar junto com a planta medicinal dedaleira pois pode aumentar os efeitos colaterais dos broncodilatadores ou causar intoxicação;
  • Evitar o consumo de alimentos e bebidas que contêm cafeína, como café, chá verde, chá preto, chocolate, refrigerantes ou bebidas energéticas, pois podem aumentar risco de efeitos colaterais, como a agitação, nervosismo ou batimento cardíaco acelerado;
  • Evitar o consumo de álcool, principalmente na utilização da teofilina porque o álcool pode aumentar o risco de efeitos colaterais, como náuseas, vômitos, dor de cabeça ou irritabilidade.

Alguns broncodilatadores, principalmente o salbutamol e a teofilina, quando usados por períodos prolongados, podem causar aumento da perda de minerais como cálcio, magnésio e potássio e, por isso, pode ser necessário o uso de suplementos indicados pelo médico.

11. Levotiroxina

A levotiroxina é um hormônio sintético da tireoide usado no tratamento do hipotireoidismo ou quando há falta desse hormônio na corrente sanguínea.

Este medicamento deve ser tomado de estômago vazio, pois os alimentos reduzem sua absorção, diminuindo sua eficácia. Por isso, é recomendado que se tome a levotiroxina de manhã em jejum, pelo menos 30 a 60 minutos antes do café da manhã.

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12. Antineoplásicos

Os antineoplásicos são medicamentos usados no tratamento do câncer e podem ter sua eficácia diminuída se forem ingeridos junto com alguns alimentos. Alguns exemplos são:

  • Tamoxifeno: deve-se evitar consumir alimentos e produtos com soja pois reduzem a ação do tamoxifeno, diminuindo sua eficácia no tratamento do câncer de mama;
  • Mercaptopurina: deve ser tomada de estômago vazio e sempre com um copo de água, nunca com leite. Os alimentos diminuem sua absorção, reduzindo a eficácia do tratamento da leucemia. O ideal é tomar esse medicamento 1 hora antes ou 2 horas depois de se alimentar;
  • Capecitabina: deve ser tomada até 30 minutos após as refeições, pois o alimento melhora sua absorção, o que aumenta a eficácia do tratamento do câncer de mama, intestino ou estômago.

Ao iniciar o tratamento para o câncer, o oncologista ou o farmacêutico oncológico devem orientar quanto às interações dos antineoplásicos com alimentos de forma individualizada, de acordo com o medicamento e o tipo de tratamento.

13. Bisfosfonatos

Os bisfosfonatos são medicamentos usados na prevenção e no tratamento de várias doenças ósseas, como osteoporose, câncer com metástase óssea, aumento de cálcio no sangue ou mieloma múltiplo.

Esses medicamentos devem ser tomados em jejum, pelo menos 30 minutos antes de comer, pois a presença de alimentos no trato gastrointestinal diminui a absorção e reduz a eficácia do tratamento.

Como o pH do estômago afeta os remédios

Alguns medicamentos dependem do pH do estômago para funcionar corretamente, como o omeprazol ou esomeprazol, por exemplo, que precisam do ácido do estômago para serem ativados e terem sua ação, devendo ser tomados em jejum.

Outro bom exemplo são os antifúngicos, como o cetoconazol, que funcionam melhor quando existe um pH ácido no estômago. Neste caso, pode ser recomendado optar por tomar o medicamento após uma refeição com alimentos ácidos, como ovo, queijo ou peixe. Além disso, é recomendado evitar utilizar remédios antiácidos, por exemplo.

Da mesma forma, os probióticos também funcionam melhor quando existe um ambiente ligeiramente mais ácido no estômago. Por isso, uma boa dica é tomar o probiótico depois de uma pequena refeição, como o lanche da manhã, preferencialmente que contenha alimentos que promovam a acidez moderada, como o leite ou o iogurte. Veja uma lista mais completa dos principais alimentos ácidos.

Já nos casos em que o medicamento pode ter sua ação reduzida pelo ácido do estômago ou que podem causar irritação no estômago, o comprimido ou a cápsula pode ter um revestimento, chamado de revestimento entérico, para que o remédio seja absorvido diretamente pelo intestino, evitando redução da sua eficácia e efeitos colaterais como azia, sensação de queimação ou dor no estômago, por exemplo.

O que fazer antes de iniciar algum medicamento

Algumas recomendações importantes ao iniciar o uso de medicamentos e incluem:

  • Tomar os medicamentos sempre com um copo de água, evitando sucos ou leite;
  • Perguntar ao médico ou ao farmacêutico sobre os alimentos que podem ou não ser consumidos durante o tratamento;
  • Seguir sempre as orientações médicas quanto aos horários da medicação e se o remédio deve ser tomado de estômago cheio ou vazio;
  • Comunicar ao médico imediatamente se apresentar efeitos colaterais.

Além disso, é importante informar ao médico todos os medicamentos, plantas medicinais ou suplementos alimentares que são utilizados para evitar aumento ou diminuição da eficácia do medicamento.