A criança que tem muita dificuldade para comer certos alimentos devido a sua textura, cor, cheiro ou sabor pode ter um distúrbio alimentar, que precisa ser identificado e tratado corretamente. Geralmente, estas crianças demonstram uma forte aversão a alguns alimentos, demonstrando vontade em vomitar ou fazendo birras para não comer.
É normal que quase todas as crianças passem por uma fase de diminuição do apetite por volta dos 2 anos de idade, que acaba resolvendo sem nenhum tratamento específico. No entanto, crianças com distúrbios alimentares têm tendência a demonstrar maior seletividade no que comem logo desde a introdução dos primeiros alimentos, não conseguindo variar muito no tipo de alimentos que comem, ou na forma de preparação desses alimentos.
Principais distúrbios alimentares da infância
Apesar de serem pouco comuns, existem alguns distúrbios alimentares que podem fazer a criança comer apenas determinado tipo de alimento, com uma determinada textura ou numa determinada temperatura:
1. Distúrbio da alimentação restritiva ou seletiva
É um tipo de transtorno que geralmente surge na infância ou adolescência, mas que também pode surgir ou persistir na vida adulta. Neste distúrbio a criança limita a quantidade de alimentos ou evita seu consumo com base na sua experiência, cor, aroma, sabor, textura e apresentação.
Os principais sinais e sintomas desse transtorno são:
- Perda de peso importante ou dificuldade para chegar ao peso ideal, segundo sua idade;
- Recusa para comer certas texturas de comida;
- Restrição dos tipo e da quantidade de alimentos ingeridos;
- Falta de apetite e desinteresse pela comida;
- Seleção de alimentos muito restritiva, que pode ir piorando com o tempo;
- Medo de comer depois de um episódio de vômito ou engasgamento;
- Presença de sintomas gastrintestinais como mal-estar estomacal, prisão de ventre ou dor abdominal.
Estas crianças tendem a ter problemas no relacionamento com outras pessoas devido aos seus problemas alimentares e podem ter deficiências nutricionais significativas que afetam seu crescimento e desenvolvimento, assim como seu desempenho na escola.
Saiba mais detalhes desse distúrbio da alimentação seletiva.
2. Distúrbio do processamento sensorial
Este transtorno é uma condição neurológica onde o cérebro tem dificuldade em receber e responder adequadamente à informação que vem dos sentidos como tato, paladar, cheiro ou visão. A criança pode ser afetada em apenas um ou vários sentidos, e por isso uma criança com esse transtorno pode responder exageradamente a qualquer estímulo dos sentidos, sendo insuportável alguns som, determinados tipos de tecido, o contato físico com certos objetos e, inclusive, alguns tipos de comida.
Quando o paladar é afetado a criança pode apresentar:
- Hipersensibilidade oral
Neste caso a criança tem preferências extremas de comida, com uma variação de alimentos muito pequena, pode ser exigente com as marcas, resiste a provar novas comidas e não consegue comer na casa de outras pessoas, evitando comidas condimentadas, picantes, doces ou saladas.
É possível que só coma alimentos de consistência branda, purê ou líquida, depois dos 2 anos de idade, podendo estranhar os alimentos com outras texturas. Também pode ter dificuldade para chupar, mastigar ou engolir com medo de engasgar. E pode resistir ou recursar ir ao dentista, queixando-se do uso da pasta de dentes e do enxaguante bucal.
- Hipossensibilidade oral
Nesta situação a criança poderá preferir os alimentos com sabor intenso como os excessivamente picantes, doces, agridoces ou salgados, sentindo inclusive que a comida não tem tempero suficiente. E pode dizer que todos os alimentos têm o 'mesmo sabor'.
Também é possível que mastigue, prove ou lamba objetos não comestíveis, comendo o cabelo com frequência, a camisa ou os dedos. Ao contrário da hipersensibilidade oral, crianças com este distúrbio podem gostar de escovas de dente elétricas, gostar de ir ao dentista e babar excessivamente.
Quando ir ao médico
Nos casos onde se evidencia sinais e sintomas de algum transtorno alimentar, o ideal é buscar ajuda do pediatra assim que possível, para que a alteração que seja avaliada. Além do pediatra, pode também ser aconselhada uma avaliação por um fonoaudiólogo e, até, de um psicólogo que podem realizar terapias que ajudem a criança a se acostumar lentamente a novos alimentos.
Este tipo de terapia pode ser chamada de dessensibilização sistemática, e consiste em ir introduzindo na vida diária da criança alimentos e objetos que a ajudem a ultrapassar o tipo de distúrbio que foi identificado. Existe ainda uma terapia chamada "Protocolo de Wilbarger na boca", onde são realizadas várias técnicas que têm como objetivo ajudar a criança a desenvolver maior integração sensorial.
Também é indicada uma consulta com um nutricionista, devido à restrição de alimentos, que pode causar uma má nutrição, devendo ser elaborado um plano nutricional individualizado, com a possibilidade de usar suplementos para oferecer as calorias que o corpo necessita.
O que fazer para que seu filho coma de tudo
Alguns conselhos práticos para fazer com que seu filho coma uma maior variedade de alimentos ou em maior quantidade, são:
- Oferecer alimentos novos preferencialmente quando a criança tem fome, porque serão melhor aceites;
- Para que a criança aceite novos alimentos deve-se tentar que ela coma este alimentos, não desistindo antes de tentar cerca de 8 a 10 vezes, em dias diferentes;
- Combinar os alimentos preferidos com os menos aceites;
- A criança normalmente come melhor se escolher alguns alimentos da refeição, pelo menos 2;
- Evitar que a criança beba muitos líquidos imediatamente antes das refeições;
- O tempo para comer não deve ser menor que 20 minutos e maior que 30 minutos, tempo suficiente para que a criança reconheça a sensação de saciedade do seu organismo;
- Se a criança não quer comer, não se deve colocar de castigo, porque isso reforça a conduta negativa, deve-se retirar o prato e ele pode sair da mesa, mas na próxima refeição deve-se oferecer uma alimentação nutritiva;
- É importante que a criança e a família estejam sentados na mesa, tranquilamente, sendo importante ter horários fixos para as refeições;
- Levar a criança para comprar a comida no mercado e ajudar na escolha e preparação das refeições e como é servida;
- Ler contos e histórias sobre alimentos.
Confira estas e outras dicas no vídeo seguinte:
5 DICAS PARA SEU FILHO COMER MELHOR
05:43 | 138.119 visualizaçõesNos casos onde se evidencia um transtorno é possível que o processo para regular a alimentação demore semanas, meses e, às vezes, anos de tratamento antes que seu filho possa gostar de alimentos de forma 'normal', ter a alimentação adequada e se adaptar, sendo muito importante buscar ajuda de profissionais de saúde, como pediatra e psicólogo, para estas situações.